(org.) Perez, Daniel Omar. Filósofos e terapeutas: em torno da questão da cura, São Paulo: Escuta, 2007. 280p. ; 21cm.
INTRODUÇÂO.
- A busca por uma medicina do corpo e da alma pode ser vista desde os primeiros pensadores gregos.
- Na tentativa de se recriar a si mesmos como figuras singulares, como metáforas de modos de vida, gestos, costumes, discursos, maneiras de se posicionar, etc...
- Pode-se dizer que esses pensadores se transformaram em terapeutas de si mesmos.
- Seu valor estava naquilo que o inspirava.
- O objetivo desta obra é apresentar as idéias de diversos filósofos e terapeutas que registram os usos das mais variadas medicinas contra a depressão, contra a angústia, contra a impotência, para alcançar a felicidade, enfim, para evitar todas as formas da dor ou ajudar a suportar o sofrimento da finitude.
Filósofos professores como terapeutas e médicos
- A imagem que a palavra filosofia hoje desperta nas pessoas é a de um professor, um indivíduo que freqüenta bibliotecas e livrarias, alguém capaz de estar horas na frente de um livro em silêncio ou diante de um auditório falando indefinidamente.
Faces do filósofo:
● Revolucionário;
● Conservador;
● Extemporâneo;
● Iconoclasta;
● Profético;
● Médico de almas.
- O filósofo nunca deixou o ofício de artesão da sua própria existência, de artífice de sua vida, de terapeuta de si mesmo.
- O filósofo era um sujeito ocupado com sua vida
- A prática da filosofia era a criação de um modo de ser como uma medicina contra o mal-estar de uma existência desagradável.
- No entanto, essa vocação de terapeuta não induziu os filósofos a instalarem consultórios e sim relações, como amor e amizade.
- Sua pedagogia consistia mais em propiciar as condições da descoberta do próprio caminho do que em indicar qual seria o resultado correto de cada ação.
- Um grande exemplo de filósofo que constituiu uma espécie de “pedagogia terapêutica” foi Pitágoras.
- O cotidiano dos membros “pitagóricos” consistia numa série de exercícios físicos e espirituais que faziam parte de um caminho para um modo de vida “filosófico”.
- Segundo Antístenes, as doenças aparecem quando nos afastamos da natureza e sua cura consiste em voltar para ela.
- Era nisso que os cínicos gregos dedicavam a sua vida.
- Suas condutas podem ser entendidas como máximas ou prescrições médicas. Uma delas era evitar todos aqueles esforços inúteis que só conduziam à infelicidade.
- Uma vida feliz não é outra coisa que viver conforme a natureza. Aceitando o que ela é, como ela é sem esperar nada dela. Quem não espera nem teme, vive livremente, pensavam os cínicos.
- Como eles não pretendiam ascender socialmente não precisavam pagar o preço da hipocrisia.
- Os cínicos aderiam a uma vida voltada para si mesmos. Isso, para eles, era uma verdadeira vida filosófica e sadia, sem mentiras nem doenças.
A medicina como filosofia de vida
- Hipócrates, o pai da medicina, declarava que existiam dois tipos de tratamento. Um para os escravos e outro para os homens livres:
a) Escravos: a medicina era reparatória, curava aquilo que era indispensável para que o homem voltasse ao trabalho.
b) Homens livres: a medicina era preventiva e se exercia como modo de vida.
- Os discípulos de Hipócrates costumavam dizer que não há nenhuma diferença entre filosofia e medicina, o que a primeira tem também se encontra na segunda. Este é um pensamento compartilhado com epicureos e estóicos.
- Epicuro e seus amigos pensavam que talvez não fosse possível eliminar o sofrimento da vida, porem, certamente é possível eliminar a dor. E o caminho para esse tratamento era a “verdade”.
Política de Epicuro: A política de cria a ilusão de que podemos modificar o desejo dos outros, e enquanto observamos que se trata de u engano ficamos frustrados.
- Na medicina dos cristãos e judeus do início da nossa era não cuidavam apenas do corpo, mas também da psique que é onde residem doenças terríveis e difíceis de curar, como o apego ao prazer, a desorientação que causam os desejos, as tristezas, os medos e as invejas.
Rousseau è propõe uma espécie de retomada do “conhece-te a ti mesmo”.
Ciências e práticas terapêuticas
- As artes de curar, as terapias, os tratamentos para a diminuição da dor e a eliminação de doenças perpassa os mais variados discursos e sua história é bem mais antiga que qualquer tentativa epistemológica de discernir o que é ciência e o que não é.
- Estas práticas milenares colocaram em questão, diversas vezes, os discursos predominantes sofrendo as conseqüências necessárias dos mecanismos de poder.
- Não só a crítica, mas também, muitas vezes, a descaracterização e a perseguição.
- Em nome da Verdade a palavra “charlatã” surge para dar rótulo àquele que oferece um novo método de “cura”.
- É em nome da saúde pública que o Estado controla a formação de especialistas em saúde e decide sobre que tipo de curas são aceitáveis e quais são “charlatanearia”.
- Mas também é em nome dessa saúde pública “científica”, e não produto da charlatanearia, que o Estado, nos séculos XIX e XX, propôs práticas higienistas, eliminação de “raças” doentes ou preguiçosas e contribuiu com as mais nefastas práticas de extermínio.
- Talvez seja porque as tentativas de demarcação científica deram piores resultados do que os da “charlatanearia” que devemos pensar mais uma vez:
● O que é a cura?
● O que é uma terapia?
● O que se cura?
- Talvez devamos voltar o olhar para a tradição e repensar os nossos conceitos, nossas práticas e nossas certezas.
QUEM SABE NÃO SE RENOVA ESTA REFLEXÃO
sexta-feira, 7 de março de 2008
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